A RAIVA



A RAIVA  

Era uma vez uma raiva
Não era uma vez, mas várias vezes
Nenhuma raiva, mas muitas raivas
Raiva de não saber o porquê
Raiva por saber o porquê
Por estar só e não entender
Raiva por querer ver o sol estável
Na paz de um aquecimento global de amor
Saber que a Terra está vibrando em compreensão e comunhão entre as espécies
Homem e mulher, filhos e filhas de um deus pagão que institui a liberdade de ser

De uma página que sempre vira e se constrói na vida e na morte de todos os dias
Raiva por ser o que é
Dentro da lei?
Criada e recriada em todos os locais, vigente nas mentes mais que no papel
No circo de uma diplomacia

Na lua tudo plaina e vibra
Na rua a gente pode trombar
No mar a gente flutua
No trabalho a gente cai e chora
No ar a gente respira e para
No vento a gente sonha em voar
Na terra a gente brota
Dentro da gente a gente se cansa e fica na espera

Mas e a raiva?

Voe e voe e voe, na dúvida respire
Voe na dança de um pensamento prazeroso
Um momento instituído pela necessidade
Voe no tempo de estar só
No tempo de deixar ir

No fim da tarde, tudo se confunde
A noite pode ser um arco-íris inteiro de transformações e mistérios
Os sons da noite

A raiva tenta ir
Mas estar preso por gravidade
Torna grave o instinto
Mexe com a necessidade de sobreviver

Parece que a raiva queria ser um poema
Está indo embora
Acho que agora foi 

 Poema e foto: Joema Carvalho
Foto: Bromélia rúpcula, Parque Estadual do Guartelá, Campos Gerais, Paraná, Brasil